Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

dona-redonda

dona-redonda

Desafio de Escrita dos Pássaros 03 - Tema 7


redonda

 Um negacionista, um padre e o Gustavo Santos entram num bar... 

Não se conhecem, mas o Gustavo Santos não resiste a exibir-se, oferecendo-se para lhes dar um autógrafo. Como não sabiam quem ele era, vê-se obrigado a apresentar-se num pequeno discurso de quinze minutos.

Gustavo Santos tenta convertê-los ao seu modo de pensar, sublinhando o que têm em comum.

O Negacionista revela-se muito negativo, e não quer sequer ouvi-lo.

O Padre está a passar por uma pequena crise de fé. De início fingiu que tinha ido ao Bar à procura de um fiel a passar por um mau momento. Acaba por assumir que é ele que anda a beber demais. O Gustava Santos aponta-lhe o exemplo do Padre que pratica exercício físico e vai à televisão, de que agora não me lembro o nome.

Enquanto a noite passa e vão emborcando uns finos ficam os três convencidos que têm algo em comum.

Na manhã seguinte já não se lembram bem do que seria e sobre se realmente se terão encontrado...

Desafio de Escrita dos Pássaros 03 - #5 ou 6 - Numa noite fria e escura...


redonda

Seria mesmo ele?

Parecia o Bill Gates. Mas porque estaria ele ali numa estação de serviço, à noite, numa auto-estrada para o Porto?

Estava com dois outros homens e tinham-se sentado uma mesa do canto. Um deles fora buscar café para os três, trouxera também uma nata, mas nenhum deles a comera, olhavam para ela meio de lado.

Além deles e de mim, não havia mais clientes. Ainda assim não pareceram suspeitar que em vinte mesas livres, fosse escolher a que ficava mesmo ao lado deles.

Tentei escutar o que diziam. Falavam em inglês. Recorri ao que aprendi na escola para ir traduzindo.

- A Xana Toc Toc alinha? Perguntou um deles.

- Ainda não falei com ela, mas de certeza vai alinhar e com ela vamos ganhar os miúdos, respondeu o outro.

Ouvi então a voz do Bill Gates tal como soava na televisão:

- Vamos substituir todas estas natas pelas que são feitas com fungos. Afirmou assertivo.

E continuou: Depois passaremos para os frangos e hambúrgueres. Os fungos são nutritivos e não gastam recursos da Terra como outros alimentos.

Os outros dois acenaram em concordância. O primeiro, o que estava mais perto de mim, disse baixo, tão baixo que se calhar só ele e eu ouvimos, “só é pena não saberem ao mesmo”.

- E o café? Perguntou o primeiro, do desabafo sentido.

- E a coca-cola? Perguntou o segundo. O desabafo e comentários lembraram-me os polichinelos.

- Lá chegaremos! Concluiu o Bill Gates.

Os três levantaram-se e saíram em direcção ao carro elétrico estacionado ao pé da entrada.

Reparei que um deles parecia ter a boca cheia, mas que o disfarçava.

Na mesa, o pratinho vazio acusava a falta da nata.

 

 

Desafio de Escrita dos Pássaros - Tema 4 e Tema 5


redonda

Tema 4

 

Estava convencida que tudo podia. Afinal era jovem, começara a trabalhar, arrendara um apartamento, a sua primeira casa, que agora iria mobilar ao seu gosto.

Viu a estante no catálogo. Passou pela loja, anotou as referências, passou pelo armazém, colocou as caixas no carrinho, pagou-as na caixa e conseguiu enfiá-las no seu carro. Não precisava de contratar o transporte ou a montagem. Ia fazer tudo sozinha.

Rumou até casa onde chegou cerca de meia hora depois.

Foi já com alguma dificuldade que levou as caixas do carro até ao elevador e do elevador para casa. Na sala, empurrou a mesa para o lado e enrolou o tapete que encostou a um canto, conseguindo o espaço necessário. Fez um pequeno intervalo para lanchar e atendeu um telefonema do namorado. Ele ofereceu-se para a ajudar, mas respondeu-lhe que não era preciso. Apesar disso ele veio ter com ela. Apenas para depois irem jantar os dois. Sentou-se num banco da cozinha agarrado ao telemóvel.

Ela começou por abrir as caixas e deu com o saco com parafusos. Foi buscar uma tesoura para o abrir. Distraiu-se a ver o papel com as instruções, ficou com um dedo preso na tesoura e cortou-se. Um pequeno arranhão, não chegou a fazer sangue, mas doeu-lhe, especialmente no seu orgulho.  Sem querer dar parte de fraca olhou meio de lado para o seu namorado. Parecia continuar entretido com o telemóvel.

Voltou a olhar para o papel, colocou as placas no que lhe parecia ser o seu lugar, enfiou, aparafusou e martelou. Estava a transpirar, mas parecia-lhe que estava a ficar bem. Resolveu então levantar a estrutura. Largou-a e por instantes, sentiu-se eufórica com a sua obra, até que notou que a mesma estremecia. Só teve tempo de se afastar antes de tudo ruir a seus pés.

Saiu-lhe um triste “Caramba, quase que conseguia.”

O namorado veio ter com ela, abraçou-a e mostrou-lhe as fotografias que tinha estado a tirar dela e do seu esforço. Fez que se zangava para que ele prometesse que ia montar ele a estante.

Sentou-se no banco onde ele antes estivera com uma bebidinha a vê-lo, mas só o perdoou totalmente por ter rido dela quando no final da terceira tentativa ele desistiu.

Concordaram os dois que era uma tarefa impossível e no dia seguinte iriam contratar um especialista, e foram jantar.

 

Tema 5

Era relativamente alto para anão, 1,28 m. Gostava até do seu tamanho. Tudo era subjectivo. Se todos fossem menos altos, se os edifícios, automóveis, utensílios, etc, tivessem sido construídos a pensar em pessoas com a sua altura ou menos, nem se veria como baixo.

Por tudo isto adorava aquele café. O espaço era quase um segredo das pessoas mais pequenas. O dono não chegava a um metro, e tinha tido sorte noutros investimentos quando decidira abrir o estabelecimento, com dimensões especiais. Desde a porta da entrada, até às mesas, altura das janelas e do balcão, tudo à medida deles.

Por isso gostava de marcar para ali os encontros com amigas virtuais.

Estava com esperanças de finalmente ter encontrado a certa, e acordara com a sensação que algo de bom lhe ia suceder naquele dia. Através do tinder tinha marcado o primeiro encontro com a Tina, uma bodybuilder de 1,28. Se ela não viesse de saltos, até teriam a mesma altura.

Ela já estava atrasada alguns minutos quando a porta se abriu.

Com grandes expectativas olhou na sua direcção, todavia quem entrava não era decididamente uma bodybuilder, e teria talvez 1,60 m. Uma turista, de calções e pernas escanzeladas, mas foi então que os seus olhares se cruzaram e algo sucedeu. Ela sentou-se na sua mesa, começaram a falar, e de repente soube que ela era a mulher mais bonita do mundo, e todas as outras por comparação, perderiam. Nessa altura a porta voltou a abrir-se e era a bodybuilder Tina.

Ela vinha ter com ele, mas não podia perder a Mary que acabara de conhecer.

Levantou-se, foi ter com a Tina, e contou-lhe o que acabara de se passar, como momentos antes encontrara a mulher da sua vida. A Tina olhou para ele como se fosse louco. Poderá ter-lhe passado pela cabeça dar-lhe um encontrão e deixá-lo estendido, pela sua indelicadeza, mas terá também pensado que ele podia era ser maluco e preferiu ir-se embora.

Foi de novo ter com a Mary, e como adivinhara, ela sentia o mesmo…

 

 

Desafio de Escrita dos Pássaros 03 - #3 - O número errado


redonda

 

Felizmente colocara o telemóvel no modo de silêncio quando se fora deitar, e só quando se preparava para o recolocar em normal é que se apercebeu do grande número de chamadas e mensagens.

A maior parte de números ocultos. Mas o que se passaria?

Foi ler algumas das mensagens. Todas falavam em combinar encontros e perguntavam preços.

O que se passaria?

Resolver ligar para um dos números não ocultos e desconhecidos. Uma voz de homem respondeu. Parecia um pouco incomodado. Aquela não era a hora certa para falarem, estava a trabalhar. Poderia ligar-lhe mais tarde? Mas foi ele que ligou para ela e às três da manhã! Daquele não conseguiu mais nada. Passou para o seguinte. Não atendeu. Já suspeitava que o seu número poderia por engano ter sido indicado nos anúncios que aparecem em alguns jornais com fotografias sugestivas de mulheres despidas.

As mensagens e os toques continuavam, mas a ideia daquilo que a esperaria se atendesse, não a incentivava a fazê-lo. Encheu-se de coragem, premiu a tecla verde de lá, uma voz masculina perguntou‑lhe “Olá linda quando podemos encontrar-nos?”. Não conseguiu responder e desligou.

 Olhou para o telemóvel a vibrar com as chamadas.

- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.

Contudo, passado pouco tempo não resistiu a ir procura-lo. Tivera sorte, não se estragara e continuava vibrante.

Mais tarde conseguiu que no mesmo jornal publicassem rectificações do número, mas durante algum tempo ainda foi procurada pelos clientes da “Quente e solitária”.

Desafio de Escrita dos Pássaros, 3.2 Afinal havia outro...fogão


redonda

Afinal havia outro...Fogão

 

Juntos há doze anos era sempre Ana que cozinhava. Carlos pouco sabia de cozinha e ela fazia tudo tão bem que ele se habituou. Ajudava-a às vezes a lavar a louça ou a metê-la na máquina. 

Para Carlos estava tudo bem até que começou a reparar que Ana andava estranha. Queixava-se do fogão, que os discos estavama pifar, que já ninguém arranjava aquilo. Parecia deveras aborrecida, mas depois ia arranjar-se e trazia comida de fora.

Ultimamente parecia-lhe que ela lhe queria dizer alguma coisa, mas depois não dizia o que era.

Começou com o ser importante sair da rotina, mudar para o que é novo, e vai daí perguntou-lhe se podiam adiar as férias, e utilizar o seu subsídio para outra despesa. Respondeu-lhe logo que sim. Ela pareceu feliz com a sua resposta, o que o deixou ainda mais preocupado. Será que ela não queria mais que passassem férias juntos?

Haveria outro?

No dia seguinte quando regressou a casa do trabalho ela já lá estava e parecia muito feliz. Anunciou-lhe: "tenho uma surpresa, segue-me" E ele seguiu-a...até à cozinha. No lugar do antigo, estava agora um novo fogão de placas vitro-cerâmicas!

Havia outro, e com ele continuaram a viver os dois felizes para sempre.

#desafiodospássaros3.0. - 1 (embora com atraso)


redonda

Como é que eu sei isto?

O Covid foi inventado em Laboratório.

Com a vacina injectam um chip e passam a controlar a nossa mente. Sem querer vamos ser levados a comprar artigos de que não precisamos.

Aliás nem existe pandemia, foi tudo inventado e temos é de ser pela verdade!

Os alienígenas estão entre nós. É difícil detectarmos um. Temos de ter muita atenção e ver se descobrimos alguém que seja tão normal que nunca repararíamos nele. Mas depois, temos de ter muito cuidado, porque se ele se aperceber que o topámos, apaga-nos a mente.

E eu sei tudo isto porque...

Divulgação - possibilidade de se participar em Colectânea de Escrita


redonda

 LUGARES E PALAVRAS DE NATAL – VOLUME IX

Coletânea de poemas e contos 2020

A Lugar da Palavra Editora quer editar (mais) um livro memorável para este Natal. E gostaria de contar consigo! Participe!

REGULAMENTO

1. O prazo de inscrição para participação na coletânea LUGARES E PALAVRAS DE NATAL e envio de textos decorre até 27 de outubro de 2020.

2. Os textos devem ser enviados em suporte informático (tipo word) e remetidos para editora@lugardapalavra.pt

3. Serão admitidos textos do género lírico (poemas) e narrativo (contos).

4. Cada autor poderá participar com um ou vários textos, que pode(m) ocupar até um máximo de quatro páginas, sendo que cada página corresponde a um conjunto de 1700 caracteres (incluindo espaços) ou 1400 caracteres (sem espaços), para os contos, ou 30 linhas de verso (incluindo espaços de transição de estrofe e eventuais versos demasiadamente longos).

5. A ordem de publicação obedecerá a um critério a definir, posteriormente, pela organização.

6. Os autores podem utilizar pseudónimo, embora sejam obrigados a identificar-se e o seu nome ser incluído na breve biografia a constar do livro.

7. Os autores devem enviar uma curta nota biográfica, que será publicada, com um máximo de 600 caracteres, incluindo espaços.

8. O tema de todos os textos é o Natal e/ou os valores à data associados.

9. No caso de a organização entender que o número de participantes não é suficiente para a edição do livro, os textos serão publicados on.line no site da editora Lugar da Palavra, em www.lugardapalavra.pt e enviado um exemplar em formato pdf a todos os participantes. A organização é soberana na seleção dos textos a incluir na obra.

10. A obra estará disponível em vários pontos de venda, com um preço de venda ao público (PVP) a definir em função do número de páginas, sendo certo que os autores beneficiarão de vantagens na sua aquisição diretamente à Lugar da Palavra Editora. Os autores selecionados obrigam-se a adquirir pelo menos um exemplar da obra.

11. Todos os textos serão alvo de revisão, com vista a apresentar um trabalho da maior qualidade possível, comprometendo-se, obviamente, a organização a nunca desvirtuar o original do autor.

12. Os participantes disponibilizam os seus textos exclusivamente para a presente publicação, sendo- lhes, obviamente reconhecido o seu direito de autor (pelo qual assumem essa responsabilidade), mas não serão pagos quaisquer direitos patrimoniais. Ou seja: o participante envia textos da sua autoria (se já publicados, com a respetiva autorização competente) e cede-os exclusivamente para o fim em questão, não resultando da sua publicação a obrigação da editora de pagamentos de direitos patrimoniais ao autor.

  1. Será constituído um Conselho Editorial formado por três elementos: ANA MARIA BESSA, MARIA EUGÉNIA PONTE e MARIA ISABEL GONÇALVES.
  1. A participação implica a aceitação de todos os termos do presente regulamento.
  2. Os casos omissos serão resolvidos pela organização

Alcino do Fundo Lopes


redonda

Nasceu a 3 de Fevereiro de 1925 em Argozelo, concelho Vimioso, distrito de Bragança, filho de Abediel Victor Lopes e de Gracinda Luís do Fundo. Seria então uma aldeia muito isolada pelo Inverno rigoroso. Quando foi possível registá-lo na Conservatória em Vimioso, para se evitar a multa, foi indicada outra data, mais de um mês depois, 8 de Março.

      Tinha um irmão mais velho que morreu com sarampo quando ele era bebé. Teve outro irmão a seguir a ele que morreu em bebe, e um irmão mais novo catorze anos que sobreviveu. Eram tempos duros.

       O seu pai comerciante de peles andava pelas feiras e também se terá dedicado ao contrabando - Espanha ficava muito perto (nessa altura pelo Alentejo o meu trisavô Pepe era guarda de fronteira).         Uma vez que acompanhou o pai a uma feira este comprou-lhe uma bola, mas quando regressaram a casa, a sua mãe condenou o gasto deitando a bola fora.

      Teve uma avó paterna que o amava e mimava, mas morreu cedo de escorbuto.

      Fez o liceu em Bragança. Uma vez, conseguiu acompanhar uns soldados numa caminhada de 5 kms para o regresso a casa.

       Entrou na Universidade, na Faculdade de Medicina Veterinária em Lisboa. A viagem de comboio levava um dia. Tinha pouco dinheiro e correu as ruas da capital em busca de pensões próximas e com as melhores condições. O curso era difícil e tinham de ficar a estudar enquanto viam estudantes de Direito a irem para o cinema de tarde. Coincidiu o seu tempo de faculdade com a 2ª Guerra Mundial e com o racionamento. Nas pensões a comida era pouca e má. Com 1,72 pesava quarenta e tal quilos. Por isso foi rejeitado para o Serviço Militar.

      Houve uma vez em que com um primo que também estudava em Lisboa, responderam a um convite que era para dois professores da Universidade  (e não para eles) e foram a um almoço memorável no Hotel do Luso.   

        Obtida a licenciatura trabalhou em Lisboa num Laboratório na pasteurização do leite. 

      Conheceu a minha mãe e casaram (depois de duas marcações falhadas e a recusa do Padre porque o meu avô que queria uma nora da terra enviava um telegrama dizendo-se doente, a morrer, sem o estar).

     Contou a minha mãe como se conhecerem, que se "zangou" porque no Eléctrico ele ia virado a olhar para ela, mas depois comentou com uma amiga que tinha gostado dele. Foi pela janela com sinais que lhe pediu depois em namoro (os dois muito bonitos, como actores de cinema).

       Depois de casada, em viagens a Argozelo a minha mãe viu neve e uma vez um lobo (quando era criança uma das razões para gostar de ir a Argozelo visitar os meus avós era ver como o meu pai parecia mais novo ao pé deles).

       Ia muitas vezes a chamadas (algumas vezes levava uma ou duas das filhas com ele, se fosse de tarde). Teve sucessivamente vários carros, Ford, Fiat e BMW. Quando chegava a casa buzinava e quando éramos crianças íamos a correr ter com ele.

       Contou-nos como tirou a carta de condução - o Engenheiro soube que ele era Veterinário e começou a conversar com ele, não sei se para o consultar, e sobre a condução colocou-lhe uma questão, o que fazer se à sua frente se atravessasse uma bola? A resposta era travar porque atrás viria uma criança.  

        Concorreu a veterinário municipal e ficou colocado em Paços-de-Ferreira, depois em Gondomar. 

             Os meus pais apenas conseguiram ter um bebé, a minha irmã Isabel, cinco anos após se terem casado. A primeira neta dos dois lados, um milagre. Depois seguiram-se mais duas, Gabriela e Ângela. Antes das filhas, nos fins-de-semana, passeavam à volta de Passos-de-Ferreira. Às vezes iam visitar uns tios a Penafiel. Iam a uma confeitaria lanchar, o seu bolo preferido seria na altura o bolo de arroz, e tiravam fotografias.     

         Teve cancro, passou por duas cirurgias, quase morreu (eu era muito pequena na altura e não soube como tinha sido grave).

          Viveu num apartamento arrendado em Paços de Ferreira e na casa de função em Gondomar.  Aos 52 anos comprou uma casa no Porto.

      

      Era muito dedicado ao trabalho. Ia a chamadas de noite e ao fim-de-semana e não tirava férias, apenas alguns dias para as visitas no Verão a Lisboa e a Argozelo.

 

      O meu pai, um homem inteligente, bonito e bom, marcado pelo que passou, pelas pessoas não muito boas com que infelizmente teve de lidar. 

       Gostava de História, especialmente da História de Portugal. Acho que chegou a dar aulas em Paços de Ferreira. Gostava de ir ao café ao fim-de-semana e a seguir ao jantar durante a semana, e ficar lá na conversa com o seu grupo de conhecidos. Gostava de ler o jornal e de pasteis de nata e de bifes.

        Teve um AVC com 89 anos, mas em parte recuperou. Estava frágil, física e mentalmente. Caiu, magoou-se na cabeça e foi para o Hospital, em tempo de Covid, quando não o podíamos acompanhar na Urgência ou visitar na Enfermaria. Melhorou do traumatismo, mas apanhou uma pneumonia bacteriana. Permitiram-nos duas visitas para despedida e morreu pouco depois da segunda, no dia 28 de Julho de 2020 (ainda às vezes não parece verdade e sentimos muito a sua falta).

  

 

Desafio de Escrita dos Pássaros # 2. 12º Tema: Cada um come onde quer e repete se quiser!


redonda

Cada um come onde quer e repete se quiser!

 

Cada um come onde quer

e repete se quiser

E se houver.

Quando sou eu que cozinho,

quero acertar nas quantidades

para que não falta, nem sobre

 

Sento-me à mesa por último,

e levanto-me primeiro,

vou reparando se tem saída

 

se fiz pouco ou estão a comer mais,

como menos para que chegue,

se sucedeu o contrário,

como mais para que não fique

 

e quando não sou a cozinheira

tento não ter mais olhos que barriga

 

Para completar texto, segue receita do arroz de bacalhau que foi hoje o jantar para quatro:

- coloquei as duas postas de bacalhau congelado com a pele por cima, alho esmagado e um pouco de azeite, água a ferver por cima - depois tirei a pele e espinhas;

- estrugido ou refogado - cebola e alho picados e azeite, pedacinho de pimento vermelho, tomate triturado, vinho branco, água, bacalhau, arroz, sal, pimenta, óregãos e coentros, e arroz (não sobrou nada :).

 

Desafio de Escrita dos Pássaros # 2.11º Tema: Actualizem-me por favor


redonda

Actualizem-me, por favor! 

 

Como escrever um texto em que peço para ser actualizada quando a maior parte do tempo acho que o estou ser, e na menor, penso que não o quereria ser.

Poderia ser um actualizem-me, por ter entretanto aparecido um  medicamento a curar todos os casos em menos de 24 horas, sem sequelas nem efeitos secundários.e ser tão fácil de fazer que rapidamente chegava a todo o lado.

Entretanto, e na sequência de post anterior na dona-redonda.blogspot posso trazer para aqui também enquanto actualização, recente constatação, além de mais gordinhos estamos a ficar também mais cabeludos. 

E se isto continuar assim e não voltarem a abrir os consultórios de estomatologistas também iremos ficar desdentados.

Desafio de Escrita dos Pássaros # 2.10 Tema: Não tenho tempo para te aturar


redonda

Não tenho tempo para te aturar

 

Talvez tenha ouvido isso quando era criança, mas seria meio a brincar.

Não me lembro de alguma vez o ter dito a alguém a sério, talvez possa tê-lo dito também a brincar.

Sobre o tempo é engraçado como desde o isolamento social voluntário (desde 12 de Março) em que passei a trabalhar, e muito menos, em casa, se primeiro me pareceu que tinha muito tempo, depois, fui enchendo os dias com o habitual, ainda que em ritmo mais lento, e parece-me que fiquei na mesma sem tempo.

Por isso ainda que continuando a gastar o tempo e não o tendo, vou tratar de arranjá-lo para aturar todos os futuros, imaginativos e desafiadores desafios de escrita dos Pássaros :)

Desafio de Escrita CNEC 20/48 - 4/10 A Mensagem


redonda

 

Primeiro era só uma suspeita.

O dinheiro era pouco e tinha tido de alugar um quarto. Passara a ter um hóspede. Recomendara-lhe que dissesse aos vizinhos que era seu primo. Não podia dar motivo ao senhorio para a despejar e sabia que não podia sub-locar. Estava lá escrito no contrato. Nunca antes vivera com um estranho. Preferiria que fosse uma mulher. Mas quando se precisa não se pode escolher.

Ele dissera-lhe que trabalhava numa empresa. Divorciara-se recentemente e a mulher ficara com a casa. Era muito fechado excepto quando falava na ex-mulher: “Ela nunca trabalhou, só gastava o dinheiro dele e com outros homens.” Pingava ódio das suas palavras, os olhos ficavam-lhe mais brilhantes e pequenos atrás das lentes grossas.

Veio então a noite em que chegou muito tarde, quando ela já estava deitada. Ouviu‑o a lavar-se e a pôr de seguida a roupa que trazia na máquina de lavar. Na manhã seguinte comentou, melhor, determinou, que a partir dali ela não entrava mais no quarto dele, seria ele a limpar o quarto. Para se assegurar, fechava-o à chave quando saía.

Sobre a ex não disse mais nada, além de que desaparecera. E disse-o com um meio sorriso.

Ele não sabia que ela tinha outra chave e um dia não resistiu. Quando ele saiu para o trabalho foi lá. Parecia tudo em ordem, até que reparou que havia sangue nuns sapatos dele. Ele tinha morto a ex-mulher!

Nessa altura ouviu que ele regressava, ter-se-ia esquecido de alguma coisa. Não ia ter tempo de sair.

O bip de uma mensagem fê-lo parar na entrada e ele ir vê-la, deu‑lhe o tempo que precisava para sair e fechar a porta do quarto.

Também por mensagem chamou ela a polícia e fugiu da sua casa até que o prenderam.

Hóspedes assim nunca mais.

 

Desafio de Escrita dos Pássaros # 2.9: Tive uma ideia


redonda

 

Tive uma ideia

(mini-mini texto com memórias)

 

Quando eu era criança, uma vez fui ver com a minha mãe a definição de "Idiota" num Dicionário e, entre outras, estava lá: "alguém que tem muitas ideias".

Tornou-se depois algo entre nós, se eu dissesse que tinha tido uma ideia ou alguém o dissesse, responder-se que era muito idiota, brincando com o outro sentido.

CNEC 48/20 - 3/10 A Professora


redonda

 

Gémea da feiticeira da Branca Neve, não da bruxa, mas da rainha madrasta, na beleza e severidade. Não sorria, não revelava qualquer enternecimento pelas ervilhas a seu cargo. A sala dividida para a 1ª e para a 2ª classes, num Colégio de Padres, reguadas permitidas, e a ameaça de ser levado ao sério-severo Padre-director para os reincidentes impenitentes.

Não tive infantil, por minha culpa – com dois anos insistiu a Educadora que poderia ficar com a minha irmã de cinco. Desatei num choro mal me vi abandonada. Deixou‑me à porta para dar a aula e fechei-os à chave na sala. Um aluno herói teve de pular pela janela para os libertar. Na saída, a Educadora concordou com a minha mãe, eu era muito pequena.

Aos seis, estava entusiasmada com a primeira classe. Finalmente ia aprender a ler e a escrever: pá, pé, piu, pua, pipa, pópó, pai e papá, a tia, tua tia, titi, a tia tapa o pote.

Aventuras sucessivas e intensidade face ao hoje descolorido, mas serão mais fáceis os dias com menos variações.

No então, castigava a Professora cada erro do ditado com uma reguada. Na sala o Nuno triste levava às vezes vinte, o Mário sorridente, nenhuma.

Ensinou-me a Paula como escapar à hora da tabuada. Já sabia até à dos cinco, mas seria uma aventura. Era só preciso antes pedir para ir à casa de banho. Pedimos as duas, fugimos as duas. Enganámos a bruxa-feiticeira, mas lá fora, sozinhas, nada acontecia.

Talvez fosse só professora, rodeada de bruxinhos alunos, barulhentos, infantis, a repetirem os erros uns dos outros, ano após ano, monotonia e cinzentismo, não era o que esperara, feiticeira desencantada.

Com ela aprendi a escrever e a ler, primeiro as legendas na televisão, depois os livros, os cinco e os sete e todos os outros.

estado_novo.jpg1classe_capa.jpg  O-Livro-da-Primeira-Clae (1).jpgTopPortuguês.jpg

CNEC 48/20 - 2/10 - Com o P.D.


redonda

 

 

O mundo estava a passar por uma pandemia e fora deliberado o isolamento social para conter a contaminação e adiar o surgimento de casos mais graves.

Os mais frágeis deveriam ficar em casa. Os demais, sem trabalhos na saúde ou na alimentação aí deveriam permanecer, saindo apenas para comprar alimentos.

Sara tinha reservas de comida e de papel higiénico, e estava em casa sem sair há três dias, quando pensou que deveria comprar enlatados.

No entanto, no seu T1 de trinta metros quadrados, faltava espaço para os guardar.

Calhou reparar então nas garrafas de vinho que o seu ex deixara para trás quando resolvera juntar-se à amante. Prometera-lhe que os viria buscar e ela não duvidara sabendo como ele acarinhava a sua coleção, o tempo que passava a olhar para as garrafas, sendo que só em ocasiões muito especiais, é que abria uma. Comprara para as guardar um armário especial onde ficariam muito bem latas de salsichas e feijão.

Ainda pensou em ligar-lhe, mas sabia qual seria a resposta e se ele atendesse. Iria adiar, não se atreveria a sair para vir buscar as garrafas. Seria melhor nem falar com ele. Custou-lhe abrir a primeira garrafa e despejar o seu conteúdo na banca. Continuou a fazê‑lo e talvez algum do álcool tivesse vindo preencher e desinfectar o ar à sua volta – cheirava muito a vinho. Resolveu provar um copinho de cada.

Abria, enchia o copinho, bebia-o, tentando comparar com o anterior, despejava o resto do conteúdo e passava para a garrafa seguinte. Era até divertido. Riu-se. Percebeu então que não estava sozinha. Bem de mansinho o Pato Donald tinha entrado na cozinha e sentara-se num banquinho ao seu lado. Ofereceu-lhe um copinho, contou-lhe como fora a sua personagem preferida. Riram os dois contentes com a companhia.

Resolveu deitar-se e adormeceu.

CNEC 48/20 - 1/10 - Um olhar


redonda

Eram quinze para a meia-noite, de um Domingo chuvoso, quando teve de sair. O seu cão Jolie já lhe dera dois ou três latidos de aviso.

Estava frio lá fora, mas andar aqueceu-o.

Já no regresso, o Jolie insistiu em que seguissem pela direita. Perto do Posto de Abastecimento reparou no casal junto a um carro preto, de faróis ligados. Ele enchia o depósito, ela próxima dele, imóvel. Não falavam. O Jolie, normalmente afável com todos, mesmo com estranhos, rosnou baixinho na direção do homem.

Só por acaso o seu olhar encontrou o dela e leu nele um pedido de ajuda.

Não sabia o que poderia fazer. Ele o Jolie estavam já os dois entradotes.  Fixou a matrícula, tentando decorá-la. Percebeu que atraíra a atenção do homem. Ele posicionara-se à frente da mulher, escondendo-a com o volume superior do seu corpo.

- Você quer arranjar problemas?

- Não senhor, não quero.

- Então, ponha-se a andar!

Algo lhe deu coragem para permanecer e responder-lhe:                        

- Mas a senhora vem comigo.

Tinha a mão direita enfiada no bolso do impermeável, agarrou a pequena lanterna que lá guardava e empunhou-a, fê-la visível como uma arma. Percebeu que o outro hesitava, até que agiu. Empurrou a mulher para cima dele. Meteu-se no carro e arrancou.

Quando a mulher foi empurrada na sua direção quase caíram os dois. Depois ela abraçou-se a ele a chorar. O carro era dela e estava a ser vítima de um assalto ou algo pior. “Salvou-me” disse ela. “Salvou-a”, confirmaram os agentes da polícia quando chegaram e identificaram o individuo como perigoso.

Nessa noite demorou menos a adormecer e comentou antes com o Jolie, “salvámo-la.”

Desafio de Escrita dos Pássaros # 2.8 Foi tão bom não foi


redonda

Foi tão bom, não foi

 

Em tempo de recolhimento, quarentena, interrupção nas vidas, ruas vazias, à excepção de filas espaçadas de pessoas algumas de ar assustado ou com máscaras, à frente de mercados e farmácias, notícias e imagens assustadoras e tristes, se chegasse o fim, o que gostaria de lembrar porque foi bom, sem estar necessariamente por ordem:

- Viver com os meus pais e irmãs e avó, e sentir que gostavam de mim como eu gostava deles;

- Brincar (aqui podendo incluir também os jogos e o tempo da plasticina e de pintar, do triciclo e da bicicleta);

- Aprender a escrever e ler, como se também fosse um jogo, e tudo o mais que gostei de aprender na escola;

- Andar,

- Ver televisão, ouvir música, ir ao cinema e algumas vezes ao teatro, uma vez à ópera;

- Aprender e ser capaz de nadar;

- Explorar instrumentos musicais, conseguir tocar alguns, mesmo que mal, algumas danças de salão, tirar a carta de condução às vezes conduzir, pintar;

- Apaixonar-me e ser correspondida, namorar;

- Passear por Portugal, viajar para outros países;

- Escrever e ler;

- O meu trabalho, muitas vezes;

- Comida e começar a cozinhar;

- Estar com a família e amigos;

- Uma última alínea para o que não me ocorre agora, mas deveria estar aqui, como descobrir mundos novos;