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dona-redonda

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CNEC 48/20 - 1/10 - Um olhar


redonda

Eram quinze para a meia-noite, de um Domingo chuvoso, quando teve de sair. O seu cão Jolie já lhe dera dois ou três latidos de aviso.

Estava frio lá fora, mas andar aqueceu-o.

Já no regresso, o Jolie insistiu em que seguissem pela direita. Perto do Posto de Abastecimento reparou no casal junto a um carro preto, de faróis ligados. Ele enchia o depósito, ela próxima dele, imóvel. Não falavam. O Jolie, normalmente afável com todos, mesmo com estranhos, rosnou baixinho na direção do homem.

Só por acaso o seu olhar encontrou o dela e leu nele um pedido de ajuda.

Não sabia o que poderia fazer. Ele o Jolie estavam já os dois entradotes.  Fixou a matrícula, tentando decorá-la. Percebeu que atraíra a atenção do homem. Ele posicionara-se à frente da mulher, escondendo-a com o volume superior do seu corpo.

- Você quer arranjar problemas?

- Não senhor, não quero.

- Então, ponha-se a andar!

Algo lhe deu coragem para permanecer e responder-lhe:                        

- Mas a senhora vem comigo.

Tinha a mão direita enfiada no bolso do impermeável, agarrou a pequena lanterna que lá guardava e empunhou-a, fê-la visível como uma arma. Percebeu que o outro hesitava, até que agiu. Empurrou a mulher para cima dele. Meteu-se no carro e arrancou.

Quando a mulher foi empurrada na sua direção quase caíram os dois. Depois ela abraçou-se a ele a chorar. O carro era dela e estava a ser vítima de um assalto ou algo pior. “Salvou-me” disse ela. “Salvou-a”, confirmaram os agentes da polícia quando chegaram e identificaram o individuo como perigoso.

Nessa noite demorou menos a adormecer e comentou antes com o Jolie, “salvámo-la.”