Desafio de Escrita dos Pássaros 03 - #5 ou 6 - Numa noite fria e escura...
redonda
Seria mesmo ele?
Parecia o Bill Gates. Mas porque estaria ele ali numa estação de serviço, à noite, numa auto-estrada para o Porto?
Estava com dois outros homens e tinham-se sentado uma mesa do canto. Um deles fora buscar café para os três, trouxera também uma nata, mas nenhum deles a comera, olhavam para ela meio de lado.
Além deles e de mim, não havia mais clientes. Ainda assim não pareceram suspeitar que em vinte mesas livres, fosse escolher a que ficava mesmo ao lado deles.
Tentei escutar o que diziam. Falavam em inglês. Recorri ao que aprendi na escola para ir traduzindo.
- A Xana Toc Toc alinha? Perguntou um deles.
- Ainda não falei com ela, mas de certeza vai alinhar e com ela vamos ganhar os miúdos, respondeu o outro.
Ouvi então a voz do Bill Gates tal como soava na televisão:
- Vamos substituir todas estas natas pelas que são feitas com fungos. Afirmou assertivo.
E continuou: Depois passaremos para os frangos e hambúrgueres. Os fungos são nutritivos e não gastam recursos da Terra como outros alimentos.
Os outros dois acenaram em concordância. O primeiro, o que estava mais perto de mim, disse baixo, tão baixo que se calhar só ele e eu ouvimos, “só é pena não saberem ao mesmo”.
- E o café? Perguntou o primeiro, do desabafo sentido.
- E a coca-cola? Perguntou o segundo. O desabafo e comentários lembraram-me os polichinelos.
- Lá chegaremos! Concluiu o Bill Gates.
Os três levantaram-se e saíram em direcção ao carro elétrico estacionado ao pé da entrada.
Reparei que um deles parecia ter a boca cheia, mas que o disfarçava.
Na mesa, o pratinho vazio acusava a falta da nata.