Tema 4
Estava convencida que tudo podia. Afinal era jovem, começara a trabalhar, arrendara um apartamento, a sua primeira casa, que agora iria mobilar ao seu gosto.
Viu a estante no catálogo. Passou pela loja, anotou as referências, passou pelo armazém, colocou as caixas no carrinho, pagou-as na caixa e conseguiu enfiá-las no seu carro. Não precisava de contratar o transporte ou a montagem. Ia fazer tudo sozinha.
Rumou até casa onde chegou cerca de meia hora depois.
Foi já com alguma dificuldade que levou as caixas do carro até ao elevador e do elevador para casa. Na sala, empurrou a mesa para o lado e enrolou o tapete que encostou a um canto, conseguindo o espaço necessário. Fez um pequeno intervalo para lanchar e atendeu um telefonema do namorado. Ele ofereceu-se para a ajudar, mas respondeu-lhe que não era preciso. Apesar disso ele veio ter com ela. Apenas para depois irem jantar os dois. Sentou-se num banco da cozinha agarrado ao telemóvel.
Ela começou por abrir as caixas e deu com o saco com parafusos. Foi buscar uma tesoura para o abrir. Distraiu-se a ver o papel com as instruções, ficou com um dedo preso na tesoura e cortou-se. Um pequeno arranhão, não chegou a fazer sangue, mas doeu-lhe, especialmente no seu orgulho. Sem querer dar parte de fraca olhou meio de lado para o seu namorado. Parecia continuar entretido com o telemóvel.
Voltou a olhar para o papel, colocou as placas no que lhe parecia ser o seu lugar, enfiou, aparafusou e martelou. Estava a transpirar, mas parecia-lhe que estava a ficar bem. Resolveu então levantar a estrutura. Largou-a e por instantes, sentiu-se eufórica com a sua obra, até que notou que a mesma estremecia. Só teve tempo de se afastar antes de tudo ruir a seus pés.
Saiu-lhe um triste “Caramba, quase que conseguia.”
O namorado veio ter com ela, abraçou-a e mostrou-lhe as fotografias que tinha estado a tirar dela e do seu esforço. Fez que se zangava para que ele prometesse que ia montar ele a estante.
Sentou-se no banco onde ele antes estivera com uma bebidinha a vê-lo, mas só o perdoou totalmente por ter rido dela quando no final da terceira tentativa ele desistiu.
Concordaram os dois que era uma tarefa impossível e no dia seguinte iriam contratar um especialista, e foram jantar.
Tema 5
Era relativamente alto para anão, 1,28 m. Gostava até do seu tamanho. Tudo era subjectivo. Se todos fossem menos altos, se os edifícios, automóveis, utensílios, etc, tivessem sido construídos a pensar em pessoas com a sua altura ou menos, nem se veria como baixo.
Por tudo isto adorava aquele café. O espaço era quase um segredo das pessoas mais pequenas. O dono não chegava a um metro, e tinha tido sorte noutros investimentos quando decidira abrir o estabelecimento, com dimensões especiais. Desde a porta da entrada, até às mesas, altura das janelas e do balcão, tudo à medida deles.
Por isso gostava de marcar para ali os encontros com amigas virtuais.
Estava com esperanças de finalmente ter encontrado a certa, e acordara com a sensação que algo de bom lhe ia suceder naquele dia. Através do tinder tinha marcado o primeiro encontro com a Tina, uma bodybuilder de 1,28. Se ela não viesse de saltos, até teriam a mesma altura.
Ela já estava atrasada alguns minutos quando a porta se abriu.
Com grandes expectativas olhou na sua direcção, todavia quem entrava não era decididamente uma bodybuilder, e teria talvez 1,60 m. Uma turista, de calções e pernas escanzeladas, mas foi então que os seus olhares se cruzaram e algo sucedeu. Ela sentou-se na sua mesa, começaram a falar, e de repente soube que ela era a mulher mais bonita do mundo, e todas as outras por comparação, perderiam. Nessa altura a porta voltou a abrir-se e era a bodybuilder Tina.
Ela vinha ter com ele, mas não podia perder a Mary que acabara de conhecer.
Levantou-se, foi ter com a Tina, e contou-lhe o que acabara de se passar, como momentos antes encontrara a mulher da sua vida. A Tina olhou para ele como se fosse louco. Poderá ter-lhe passado pela cabeça dar-lhe um encontrão e deixá-lo estendido, pela sua indelicadeza, mas terá também pensado que ele podia era ser maluco e preferiu ir-se embora.
Foi de novo ter com a Mary, e como adivinhara, ela sentia o mesmo…