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dona-redonda

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Desafio de Escrita dos Pássaros 03 - Tema 7


redonda

 Um negacionista, um padre e o Gustavo Santos entram num bar... 

Não se conhecem, mas o Gustavo Santos não resiste a exibir-se, oferecendo-se para lhes dar um autógrafo. Como não sabiam quem ele era, vê-se obrigado a apresentar-se num pequeno discurso de quinze minutos.

Gustavo Santos tenta convertê-los ao seu modo de pensar, sublinhando o que têm em comum.

O Negacionista revela-se muito negativo, e não quer sequer ouvi-lo.

O Padre está a passar por uma pequena crise de fé. De início fingiu que tinha ido ao Bar à procura de um fiel a passar por um mau momento. Acaba por assumir que é ele que anda a beber demais. O Gustava Santos aponta-lhe o exemplo do Padre que pratica exercício físico e vai à televisão, de que agora não me lembro o nome.

Enquanto a noite passa e vão emborcando uns finos ficam os três convencidos que têm algo em comum.

Na manhã seguinte já não se lembram bem do que seria e sobre se realmente se terão encontrado...

Desafio de Escrita dos Pássaros 03 - #5 ou 6 - Numa noite fria e escura...


redonda

Seria mesmo ele?

Parecia o Bill Gates. Mas porque estaria ele ali numa estação de serviço, à noite, numa auto-estrada para o Porto?

Estava com dois outros homens e tinham-se sentado uma mesa do canto. Um deles fora buscar café para os três, trouxera também uma nata, mas nenhum deles a comera, olhavam para ela meio de lado.

Além deles e de mim, não havia mais clientes. Ainda assim não pareceram suspeitar que em vinte mesas livres, fosse escolher a que ficava mesmo ao lado deles.

Tentei escutar o que diziam. Falavam em inglês. Recorri ao que aprendi na escola para ir traduzindo.

- A Xana Toc Toc alinha? Perguntou um deles.

- Ainda não falei com ela, mas de certeza vai alinhar e com ela vamos ganhar os miúdos, respondeu o outro.

Ouvi então a voz do Bill Gates tal como soava na televisão:

- Vamos substituir todas estas natas pelas que são feitas com fungos. Afirmou assertivo.

E continuou: Depois passaremos para os frangos e hambúrgueres. Os fungos são nutritivos e não gastam recursos da Terra como outros alimentos.

Os outros dois acenaram em concordância. O primeiro, o que estava mais perto de mim, disse baixo, tão baixo que se calhar só ele e eu ouvimos, “só é pena não saberem ao mesmo”.

- E o café? Perguntou o primeiro, do desabafo sentido.

- E a coca-cola? Perguntou o segundo. O desabafo e comentários lembraram-me os polichinelos.

- Lá chegaremos! Concluiu o Bill Gates.

Os três levantaram-se e saíram em direcção ao carro elétrico estacionado ao pé da entrada.

Reparei que um deles parecia ter a boca cheia, mas que o disfarçava.

Na mesa, o pratinho vazio acusava a falta da nata.

 

 

Desafio de Escrita dos Pássaros - Tema 4 e Tema 5


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Tema 4

 

Estava convencida que tudo podia. Afinal era jovem, começara a trabalhar, arrendara um apartamento, a sua primeira casa, que agora iria mobilar ao seu gosto.

Viu a estante no catálogo. Passou pela loja, anotou as referências, passou pelo armazém, colocou as caixas no carrinho, pagou-as na caixa e conseguiu enfiá-las no seu carro. Não precisava de contratar o transporte ou a montagem. Ia fazer tudo sozinha.

Rumou até casa onde chegou cerca de meia hora depois.

Foi já com alguma dificuldade que levou as caixas do carro até ao elevador e do elevador para casa. Na sala, empurrou a mesa para o lado e enrolou o tapete que encostou a um canto, conseguindo o espaço necessário. Fez um pequeno intervalo para lanchar e atendeu um telefonema do namorado. Ele ofereceu-se para a ajudar, mas respondeu-lhe que não era preciso. Apesar disso ele veio ter com ela. Apenas para depois irem jantar os dois. Sentou-se num banco da cozinha agarrado ao telemóvel.

Ela começou por abrir as caixas e deu com o saco com parafusos. Foi buscar uma tesoura para o abrir. Distraiu-se a ver o papel com as instruções, ficou com um dedo preso na tesoura e cortou-se. Um pequeno arranhão, não chegou a fazer sangue, mas doeu-lhe, especialmente no seu orgulho.  Sem querer dar parte de fraca olhou meio de lado para o seu namorado. Parecia continuar entretido com o telemóvel.

Voltou a olhar para o papel, colocou as placas no que lhe parecia ser o seu lugar, enfiou, aparafusou e martelou. Estava a transpirar, mas parecia-lhe que estava a ficar bem. Resolveu então levantar a estrutura. Largou-a e por instantes, sentiu-se eufórica com a sua obra, até que notou que a mesma estremecia. Só teve tempo de se afastar antes de tudo ruir a seus pés.

Saiu-lhe um triste “Caramba, quase que conseguia.”

O namorado veio ter com ela, abraçou-a e mostrou-lhe as fotografias que tinha estado a tirar dela e do seu esforço. Fez que se zangava para que ele prometesse que ia montar ele a estante.

Sentou-se no banco onde ele antes estivera com uma bebidinha a vê-lo, mas só o perdoou totalmente por ter rido dela quando no final da terceira tentativa ele desistiu.

Concordaram os dois que era uma tarefa impossível e no dia seguinte iriam contratar um especialista, e foram jantar.

 

Tema 5

Era relativamente alto para anão, 1,28 m. Gostava até do seu tamanho. Tudo era subjectivo. Se todos fossem menos altos, se os edifícios, automóveis, utensílios, etc, tivessem sido construídos a pensar em pessoas com a sua altura ou menos, nem se veria como baixo.

Por tudo isto adorava aquele café. O espaço era quase um segredo das pessoas mais pequenas. O dono não chegava a um metro, e tinha tido sorte noutros investimentos quando decidira abrir o estabelecimento, com dimensões especiais. Desde a porta da entrada, até às mesas, altura das janelas e do balcão, tudo à medida deles.

Por isso gostava de marcar para ali os encontros com amigas virtuais.

Estava com esperanças de finalmente ter encontrado a certa, e acordara com a sensação que algo de bom lhe ia suceder naquele dia. Através do tinder tinha marcado o primeiro encontro com a Tina, uma bodybuilder de 1,28. Se ela não viesse de saltos, até teriam a mesma altura.

Ela já estava atrasada alguns minutos quando a porta se abriu.

Com grandes expectativas olhou na sua direcção, todavia quem entrava não era decididamente uma bodybuilder, e teria talvez 1,60 m. Uma turista, de calções e pernas escanzeladas, mas foi então que os seus olhares se cruzaram e algo sucedeu. Ela sentou-se na sua mesa, começaram a falar, e de repente soube que ela era a mulher mais bonita do mundo, e todas as outras por comparação, perderiam. Nessa altura a porta voltou a abrir-se e era a bodybuilder Tina.

Ela vinha ter com ele, mas não podia perder a Mary que acabara de conhecer.

Levantou-se, foi ter com a Tina, e contou-lhe o que acabara de se passar, como momentos antes encontrara a mulher da sua vida. A Tina olhou para ele como se fosse louco. Poderá ter-lhe passado pela cabeça dar-lhe um encontrão e deixá-lo estendido, pela sua indelicadeza, mas terá também pensado que ele podia era ser maluco e preferiu ir-se embora.

Foi de novo ter com a Mary, e como adivinhara, ela sentia o mesmo…

 

 

Desafio de Escrita dos Pássaros 03 - #3 - O número errado


redonda

 

Felizmente colocara o telemóvel no modo de silêncio quando se fora deitar, e só quando se preparava para o recolocar em normal é que se apercebeu do grande número de chamadas e mensagens.

A maior parte de números ocultos. Mas o que se passaria?

Foi ler algumas das mensagens. Todas falavam em combinar encontros e perguntavam preços.

O que se passaria?

Resolver ligar para um dos números não ocultos e desconhecidos. Uma voz de homem respondeu. Parecia um pouco incomodado. Aquela não era a hora certa para falarem, estava a trabalhar. Poderia ligar-lhe mais tarde? Mas foi ele que ligou para ela e às três da manhã! Daquele não conseguiu mais nada. Passou para o seguinte. Não atendeu. Já suspeitava que o seu número poderia por engano ter sido indicado nos anúncios que aparecem em alguns jornais com fotografias sugestivas de mulheres despidas.

As mensagens e os toques continuavam, mas a ideia daquilo que a esperaria se atendesse, não a incentivava a fazê-lo. Encheu-se de coragem, premiu a tecla verde de lá, uma voz masculina perguntou‑lhe “Olá linda quando podemos encontrar-nos?”. Não conseguiu responder e desligou.

 Olhou para o telemóvel a vibrar com as chamadas.

- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.

Contudo, passado pouco tempo não resistiu a ir procura-lo. Tivera sorte, não se estragara e continuava vibrante.

Mais tarde conseguiu que no mesmo jornal publicassem rectificações do número, mas durante algum tempo ainda foi procurada pelos clientes da “Quente e solitária”.